domingo, 2 de janeiro de 2011

Terra - Minha Terça Parte - 2

Minha amargura reside justamente no papel que adoto - que escolho:
Não quero pra ninguém o que carrego em mim e, como não sei o que fazer com isso, continuo guardando. Talvez seja puro egoísmo pensar que somente eu posso carregar o fardo e a dor de portar-me como algum guia, um orientador que fala sobre as maravilhas de buscar realizações no "mundo lá fora", ao passo em que me sinto "fechado em meu mundinho" - vendo tudo por uma janela empoeirada, suja, opaca.

Por vezes é sofrido se importar - em outras dá asco. Em ocasiões visto meu manto de Atlas e abraço o mundo. No minuto seguinte, torno-me Hades e ateio fogo à minha alma por ser tão ocre para acreditar e agir como sacra. Como se não bastasse, Netuno surge e inunda minhas construções, as destrói com angústia e ira desmedida - pune minha soberba - orientada ao outro. É como se pagasse tributo à Zeus, para não invocar seus raios, mas falhasse com os demais.
Se por algum acaso providenciasse um meio de evitar a devastação desse mar de lágrimas, falharia ainda assim. Por encarnar Prometeu e afrontar Deuses em atos de um altruísmo um tanto besta.

E, como não lembrar de Caronte? Cada um que se vai me faz sentir como o barqueiro... Vão se as pessoas, ficam as moedas... Não vou a lugar algum, fico entre duas margens e um rio - não chego à terceira e, afinal, qual o uso das moedas se fico aqui, remando sem propósito próprio?

Tão fácil de escrever quando preencho cada espaço com uma analogia diferente, uma imagem que representa mas não é "eu" - explica mas não apresenta a mim - somente atua como se fosse...

Temo cada saída como um vendaval - sinto como se arrancassem de mim algo que recém começava a crescer - mas ao mesmo tempo temo, com absoluto terror, as raízes que crio por medo de ficar preso. Eu não quero ficar, mas não ouso sair por receio de replicar em outrém o que me corrompe. Aliás, o que permito que me corrompa.

Ninguém nunca soube quão próximo esteve de mim até que fosse embora. Não souberam também quantas vezes desejei que sumissem de minha vista - antes que fixassem alguma raiz, positiva ou negativa.

"Tentar abraçar o mundo pode quebrar os braços". Eu diria que não tentar deve atrofiá-los.

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