quarta-feira, 28 de abril de 2010

A busca do Equilíbrio não-Inercial


Acho que é hora de criar um novo hábito. Ao invés de guardar as coisas, até que elas explodam devastando toda a área habitável do meu eu, aos poucos começarei a deixar o rio fluir. Repito: Aos poucos.

Tenho algum receio de deixar todas as comportas abertas da minha barragem... Afinal, e se pára de chover? Da onde vou retirar energia? O que vai mover minhas turbinas se tudo que vier passar direto pro escoadouro?

Não quero também um meio termo, porque toda a escolha feita com base num compromisso eterno é rapidamente substituída pelo encarceramento da livre vontade, é a exaltação da ignorância e a chacina do arbítrio.

Escolhas são feitas a cada segundo – reforçadas ou enfraquecidas. De algum modo, eu levei tempo demais vivendo em absolutos. Das montanhas do Everest às profundezas dos Oceanos em apenas 10 segundos. Resolvia assim, por medo de contradizer princípios internos que não havia construído, ser um eterno passageiro da montanha-russa emocional a qual me submeti.

Sim, ainda assim, sem sintomas aparentes, pois numa analogia com os problemas causados pela variação demasiada da pressão atmosférica – isso me punia severamente por dentro, dilacerando meus órgãos num jogo sádico e viciante.

É, devo desculpas a algumas pessoas as quais me viciei... E também a alguns hábitos que adquiri e à todos os sinais que resolvi ignorar enquanto buscava refúgio em memórias turvas. Afinal, tenho que concordar (em partes) – apenas o que terminou é verdadeiramente seu. Único, eterno, imutável (superficialmente).

Pois, ao delimitarmos um fim (e isso vai de cada um), finalizamos o enredo, rotulamos o gênero da memória e catalogamos de acordo com nossas preferências. Realmente, o passado é o auge do poder pessoal e, por isso, a soberba e a desgraça de uma pessoa.

De que adianta TER uma memória? Se não se construir nada a partir disso, nem que seja um novo caminho, a lembrança nada mais é que um torpor, uma fuga ilusória de si que promete melhores sensações alimentando a nostalgia e o relativismo destrutivo. Afinal: “ontem eu fui feliz, hoje estou só lembrando do que aconteceu”, ou o exato oposto: “como eu era miserável, ingrato, medíocre... mas irei mudar”. E eu pergunto, COMO? Se isso ficou pra trás, o que você está construindo agora? Porquê foge do presente e se ilude com a promessa de um futuro melhor com base num pressentimento, na magia, no conto de fadas?

É por isso que eu digo que preciso de um novo hábito. Talvez seja difícil começar, mas é necessário. Assim como o passado já foi, o futuro pertence ao amanhã. Cada um pode fazer o que bem entender e vislumbrar tanto um quanto o outro, sem esquecer – porém – que pensar em ambos é uma escolha feita no Presente. Penso ter escolhido o Presente. E vou explicar:

Citei antes um pensamento que diz que somente o que termina, portanto passado, nos pertence. Estendendo a proposta, o que não aconteceu não nos pertence, nem pertencerá, pois está por vir.

Se eu conectei o passado à Soberba, poderia muito bem ligar o Futuro à Cobiça.

Incluo também o dualismo “Montanhas - Profundezas do Oceano” como a temática comum a ambas atitudes. Ao eximir-se da responsabilidade pelo próprio resultado, é como se sentir no cume do Everest ao passo em que se submerge na Zona Abissal de algum ponto sem vida do Oceano. Já ao “possuir” uma história passada, é como ser pressionado pelos milhões de metros cúbicos de água de um Oceano e despender todas as energias imaginando como era puro o ar da montanha.

Em ambas as situações nós não somos, não estamos. Não é apenas uma questão de Conjugação verbal. É conjugar no sentido de compartilhar... Porque só se tem o que se divide, só é Presente o que se dá e o que se recebe.

São necessárias constantes variações e reavaliações na busca do Equilíbrio pra Vida, não pela tendência Inercial, mas através de nossas ações e das reações do mundo.

Viver, enfim, é o RECÍPROCO – é o que doamos ao mundo e que precisamos também receber para prosseguir.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Porque acreditar em anjos?

Por vezes me pergunto mesmo temendo a resposta,
mesmo que seja profundo, cada mito ou lenda nossa
evoca desejos puros, daquilo que não há em volta,
do que não tivemos, ou do que sentimos falta

É como tatear no escuro
ou viver de olhos fechados
evitar a realidade para ter algo de mágico

Acreditar no absurdo e assim voar leve como um pássaro
Ou sentir a proteção de um guardião silencioso
É pedir que o vento carregue mensagens a alguém amado
Querer e temer ter Alguém que veja nossos passos

Assim buscamos neste mundo
O absurdo, louco e insano
E encontrar assim razão, frente a outro humano

Que possa cada um escolher, dentro de si, o que importa
E acredite mesmo que nunca tenha conclusão
Ou que nem a procure, só faça o bem a qualquer hora
Pois é sempre tênue a linha entre fé e ilusão

Carregue amor no coração
Sem procurar razão ou provas
Para não ver as asas de um anjo só quando este lhe der as costas